Categoria: Artigos
Data: 11/08/2023
Aniversário da IPB – Por que 12 de agosto?

Algumas datas que comemoramos são plenamente evidentes. Por exemplo, o nascimento de alguém ou a ocorrência de um fato histórico, como a Independência do Brasil ou a Proclamação da República. É aquele dia, e não pode ser outro. Em outros casos, todavia, a data da comemoração é de natureza convencional e simbólica, e poderia ser diferente. É o caso do aniversário da IPB. O dia 12 de agosto de 1859 simplesmente marcou a chegada do primeiro missionário presbiteriano, Rev. Ashbel Green Simonton. A igreja presbiteriana brasileira não “nasceu” ou foi fundada naquela ocasião. Isso ainda levaria alguns anos – ou décadas – para acontecer. Portanto, pode parecer inadequado comemorar o aniversário da igreja num dia em que o evento comemorado não ocorreu efetivamente.

Na verdade, existem pelo menos outras três datas que poderiam ser candidatas para essa comemoração. A primeira é 12 de janeiro, o dia em que se verificou, em 1862, no Rio de Janeiro, a criação da primeira comunidade presbiteriana. Parece que Simonton concordaria com isso. Nessa ocasião, ele anotou em seu diário: “Assim nos organizamos em igreja de Jesus Cristo no Brasil”. A segunda data que poderia concorrer ao posto de aniversário da denominação é 16 de dezembro, ocasião em que foi organizado, em 1865, nosso primeiro concílio – o Presbitério do Rio de Janeiro. Até então, existiam apenas três igrejas locais (Rio, São Paulo e Brotas) sem qualquer conexão formal. A terceira data possível, e altamente significativa, seria 6 de setembro, o dia em que foi organizado o Sínodo Presbiteriano do Brasil (1888), ou seja, em que a IPB se tornou de fato uma organização distinta das igrejas-mães dos Estados Unidos.

Por que então 12 de agosto? Pelo entendimento de que as raízes mais antigas da IPB se encontram naquele dia, há 164 anos, em que o Rev. Simonton pôs os pés na antiga capital do império. Mais do que a comemoração do “nascimento” de algo, trata-se da celebração de um evento que haveria de ter desdobramentos tão valiosos – e de uma pessoa que Deus usou como instrumento para que isso ocorresse. Naquele dia distante, a igreja presbiteriana brasileira era apenas um sonho, um projeto, uma aspiração do jovem missionário de “barba nazarena”, no dizer de um historiador. Aquele dia de humildes começos marcou o início de uma cadeia de acontecimentos que resultaria na Igreja Presbiteriana do Brasil.

O próprio Simonton participou diretamente de duas das três datas acima (12 de janeiro e 16 de dezembro), porém, ao falecer, em 09.12.1867, a futura denominação era ainda diminuta, com três igrejas locais, um presbitério, um jornal e um seminário com quatro estudantes. O pioneiro não tinha como saber se a semente que plantou haveria de produzir resultados duradouros. Esse plantio tinha sido árduo e, por vezes, doloroso: lutas contra a intolerância, dificuldades com os colegas e principalmente a perda angustiosa da jovem esposa e, por fim, a sua própria morte prematura. Se ele tivesse vivido até a organização do Sínodo, podemos dizer, parodiando as palavras de Isaías 53.11, e evidentemente num sentido muito distinto do que elas se aplicam ao Messias, que ele teria ficado satisfeito com o fruto do penoso trabalho de sua alma.

Durante um bom tempo, os presbiterianos brasileiros não deram muita atenção ao 12 de agosto. Em janeiro de 1912, por exemplo, foi comemorado o “jubileu presbiteriano”, ou seja, o cinquentenário da igreja do Rio de Janeiro. Foi somente mais tarde, ao surgir e se avolumar o interesse pela comemoração do centenário do presbiterianismo nacional, que o 12 de agosto se fixou definitivamente no imaginário dos presbiterianos. O valor simbólico dessa data não pode ser desprezado. É inspirador pensar não só no que ocorreu naquele dia de 1859, mas em tudo o que levou àquele desfecho, no investimento de fé, visão, recursos e energias feito por uma igreja distante, por sua junta missionária e, em especial, por um indivíduo habilitado, consagrado e profundamente motivado para uma obra a que Deus o chamava. Certamente precisamos de tudo isto para enfrentar os enormes desafios dos dias atuais.


O Rev. Alderi Souza de Matos é o historiador da IPB.



Autor: Jornal Brasil Presbiteriano   |   Visualizações: 1787 pessoas
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